sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Clarisser (Vitor Ramil)

Clarisser
É um poder vulgar
Corpo luz da emoção
O instrumento que transporta
O ser nas idéias
Ao ser nas palavras
E então
Faz a gente proesiar
Faz a gente pertencer
Aos sujeitos, advérbios
Ao mistério
De expressar o que se quer

Clarisser
É sempre cultivar
O saber na solidão
Pra poder manter acesa
A vida serena
Dentro de um silêncio transparente
Que ajude a compreender
O que acontece além
Das esquinas, das verdades
E das guerras
Além dos gestos dos gestos

Clarisser
É oãn es raserper
A sarger arap rairc
Rariver sadot sa sesarf
Sodot so samenof
Rirbocsed as seroc sod samora
Que desprendem das canções
E se soltam pelo ar
Em matizes, ocra-siri
Tons profundos
Que vão pousar na terra

Clarisser
É só um verbo assim
Meio meu
Meio não meu
Que anima os sentidos
E corre nos trilhos
Que cruzam o pampa da razão
Nada o conjuga não
É o infinitivo em si
Sem futuro, nem passado
Mas presente
Aonde está presente.

Vitor Ramil



Algumas idéias
Na minha opinião Vitor Ramil fez esta música pensando em Clarice Lispector.
Ele a publicou no álbum A Paixão de V Segundo Ele Próprio, talvez uma referência ao livro dela, A Paixão Segundo GH.

Clarice Lispector gostava de proesiar. Ela escrevia em prosa, mas o conteúdo de sua obra é poético. Tanto é que um padre chamado Antônio Damázio resolveu arranjar em versos alguns dos textos dela. O termo proesiar me fez lembrar disso.

Talvez a música fale sobre ele mesmo, pois ele também é escritor e a música lembra todo o processo de criação de música e poesia.

Mais sobre a proesia de Lispector:
http://www.revista.agulha.nom.br/cli.html

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Não mato porque não quero perder

Um manuscrito de Clarice Lispector, da década de 70 presente no livro de Nadia Gotlib, "Clarice: Uma Vida que se Conta", página 46:

"Não mato porque não quero perder
minha vida mas também
porque quero me banhar
na retida vontade de matar retida, sim, e por isso mesmo
mais violenta - sou obrigada a ter como
só meu o gesto supremo de
querer matar e, gosto de
viver sob a extrema tensão de
arco-e-flecha retesada. E
que não disparou - Mas disparou para dentro
E então - êxtase"

Clarice Lispector

----
GOTLIB, N. B.; Clarice: Uma Vida que se Conta; 5ª ed, 1995, editora Ática, n° cham: 928.69 L69g

Minha alma tem

"Minha alma tem
o peso da luz.
Tem o peso
da música,
Tem o peso
da
palavra nunca
dita, prestes quem sabe a ser dita Tem o peso de uma
lembrança, tem
o peso de uma saudade
Tem o peso de um olhar.
Pesa como
pesa uma
ausência
E a lágrima
que não se
chorou temo
imaterial
peso de um
solidão no meio de outros."

Clarice Lispector



As pessoas se perguntam se o texto "Minha alma tem o peso da luz" é mesmo de Clarice Lispector, pois nunca o encontraram em nenhuma obra publicada dela. Embora ela nunca tenha publicado, o texto é dela e tentei reproduzir cada linha, como li no livro "Clarice: Uma Vida que se Conta" escrito por Nadia Battella Gotlib. Este texto está na seção de fotos do livro na página 43. Diz a legenda que é um manuscrito da década de 70. O manuscrito é um rascunho, cheio de rabiscos, portanto não se sabe se a intenção dela era escrever em forma de versos ou em forma de prosa, porém sabemos que o conteúdo é muito poético. A parte "Pesa como pesa uma ausência" foi escrita esprimida ao lado esquerdo da segunda metade do trecho que vem antes, ou seja, é um rascunho puro!!! "Peso de um solidão no meio de outros", acho que esse "um" é um rabisco para testar a caneta, não sei... Enfim, é um rascunho! Clarice ficaria aborrecida se divulgássemos seu texto todo perfeitinho? Também não sei...

Aqui está uma versão mais apresentável:

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem peso da palavra
nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o
peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a
lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros"

Clarice Lispector



Em alguns sites e e-mail's circulam versões alteradas do texto, por exemplo, em lugar de "tem o peso da luz" colocam "tem o peso da luz do Sol", que é muito limitado. Quando se diz "luz" pode ser até aquela luz que vem da nossa mente - uma idéia - pode ser a luz neon, a luz da chama de uma vela, a luz de uma luminária, incluindo até mesmo a luz do Sol.
----

Referência

GOTLIB, N. B.; Clarice: Uma Vida que se Conta; 5ª ed, 1995, editora Ática, n° cham: 928.69 L69g